quinta-feira, 31 de julho de 2014

Escola oferece educação dividida por gênero

Meninas se divertem na Escola do Bosque Mananciais (Foto: Divulgação)


Tente se lembrar do seu tempo de escola: a turma na sala de aula, depois brincando no intervalo e correndo na educação física. A maior parte dos pais de hoje frequentou escolas mistas, em que meninos e meninas dividem o mesmo espaço. Mas não é isso que acontece nas escolas de educação diferenciada por gênero, ou 'single sex', como são conhecidas. Nesse modelo educacional, cada sexo tem um prédio próprio, e os meninos não entram em contato com as meninas e vice-versa. Até os professores são dos respectivos sexos de cada turma.

Há cinco anos, a Escola do Bosque Mananciais, em Curitiba (PR), oferece o ensino single sex. “É a primeira escola do Brasil com o método. No passado, as instituições que separavam por sexo eram segregadoras, por que tinham currículos diferentes para meninos e meninas. A nossa proposta é a mesma para ambos. O modelo é novo aqui, mas já está consolidado em países de primeiro mundo há mais de 50 anos”, diz Lélia Cristina de Melo, diretora da escola e membro da Associação de Educação Personalizada.
Como funciona

Segundo a diretora, o modelo se baseia na neurociência, na endocrinologia e na psicologia evolutiva, e leva em conta que meninas e meninos pensam, aprendem, reagem e se expressam de forma diferente. “Então, o fato de estarem em ambientes distintos promove um processo de aprendizagem mais direcionado”, defende Lélia.

O ensino é integral, das 8h às 16h30. As meninas têm aulas com professoras e, os meninos, com professores. “Os educadores atendem as peculiaridades de cada sexo, aumentando assim o desempenho acadêmico em relação às escolas mistas”, diz a diretora. O ritmo também varia de uma turma para outra: “Os meninos amadurecem mais lentamente, são mais inquietos, por isso precisam de maior movimentação e aulas dinâmicas, enquanto as meninas são mais maduras, concentradas, disciplinadas e requerem um nível de verbalização mais elevado”.


Meninos praticam ciclismo na Escola do Bosque Mananciais (Foto: Divulgação)


A separação começa no 2° ano do Ensino Fundamental, quando as crianças têm por volta de 7 anos. Como a escola é relativamente nova, cada sala tem cerca de 8 alunos – mas pretende chegar a 25 por turma. Por enquanto, só há classes até o 8° ano para meninos e até o 6° para meninas. “A cada ano abrimos a série seguinte. Queremos estender o modelo até o 3° colegial”, explica Lélia. A instituição é católica e ministra aula da religião.

A engenheira cartógrafa Rita Rossot de Lima conta que a escola e a família trabalham de mãos dadas. Ela, inclusive, faz trabalho voluntário na instituição durante as manhãs. Seus dois filhos, Miguel, 13 anos, e Sofia, 9, estão cursando há um ano o modelo single sex. “Eu escolhi a escola justamente pelo diferencial da educação personalizada para cada sexo. Eu li que o desenvolvimento psicológico do menino acontece mais tarde que o da menina. Então, essa separação é fantástica. O meu filho, especialmente, está super feliz. E a minha filha está mais organizada, mais carinhosa. Senti uma evolução afetiva”, conta Rita. Ela pretende manter as crianças na escola até o ensino médio.
 
 
Lá fora

Em 1966, havia 2.500 escolas single sex no Reino Unido. Os dados mais recentes disponíveis apontam que o número caiu muito e, em 2006, restavam apenas 400 instituições do tipo.

Nos Estados Unidos, 116 escolas públicas são exclusivamente single sex – um número pequeno em relação ao total de 98.328 escolas públicas do país.
Outras opiniões

“Embora existam especificidades no universo masculino e no feminino – e haja diferença! – o mundo não é dividido dessa maneira. Não vamos à escola só para aprender conteúdos específicos como matemática e línguas. Vamos para aprender coisas do mundo, inclusive a nos relacionar e lidar com as diferenças, com desafios”, afirma a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano.

Segundo ela, em um mundo que discute cada vez mais a inclusão, esse tipo de tentativa de homogeneização pode ser um retrocesso, já que o homem e a mulher vivem juntos em sociedade. “As diferenças são importantes. Hoje temos mulheres se saindo bem em atividades que antes eram predominantemente masculinas e vice-versa. Quando o ambiente é muito igual, perdemos grandes possibilidades de aprendizado, como a tolerância”, completa.

Essa também é a opinião da socióloga Gisela Wajskop, colunista da CRESCER. “A sociedade atual tem muitos gêneros, não há mais apenas a divisão meninos e meninas. Quando se faz essa separação, mesmo com a justificativa que os meninos são mais enérgicos e que as meninas são mais concentradas, eu acho preocupante." Para Gisela, ao invés de usar as características de cada sexo para separá-los, o ideal seria que as escolas reelaborassem seus projetos para abraçar todas as diferenças. “Tenho receio de ver essas pesquisas que apenas ilustram preconceitos e generalizam características biológicas já conhecidas, como a facilidade de concentração das meninas e a agilidade dos meninos. O homem é único ser capaz de pensar e, portanto, transformar essas características e construir sua própria cultura”, conclui.

Fonte: Revista Crescer
 

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