quarta-feira, 27 de julho de 2011

Equoterapia é alternativa para reabilitação de portadores de necessidades especiais

 
LIDIA WENHRYNIWSKYJ
Especial para o RROnline* 
 
A equoterapia é um método que utiliza cavalos para auxiliar na reabilitação de pessoas com deficiências físicas, mentais ou necessidades especiais em geral. O tratamento com o animal é utilizado como agente promotor para ganhos psicológicos, físicos e educacionais para esta população. Para os especialistas, a atividade exige uma participação do corpo inteiro, o que acaba contribuindo para o desenvolvimento da força, além de proporcionar relaxamento, conscientização do próprio corpo e ajuda na coordenação motora e no equilíbrio, ajudando na autoconfiança e na autoestima.

No Brasil, o tratamento é normatizado pela Associação Nacional de Equoterapia Ande-Brasil, entidade assistencial sem fins lucrativos. O método é reconhecido pelo conselho federal de medicina (CFM) e pelo conselho de fisioterapia e terapia ocupacional (COFITO), estes reconhecimentos são nacionais, conforme informação do Ministério da Saúde. Pelo conselho de psicologia, a normatização ainda está em andamento. Alguns planos de saúde pagam o atendimento para seus associados.  Existe um projeto tramitando no Senado para regularizar o atendimento pelo SUS. Fora do Brasil, a terapia já é reconhecida há muitos anos.

“O cavalo se movimenta no passo, realiza um balanço tridimensional, ou seja, frente e trás, um lado e outro e para cima e para baixo movimento que se assemelha ao passo humano. Esses estímulos são transmitidos repetidamente para o sistema nervoso central, desencadeando respostas positivas, como ganho de equilíbrio corporal, adequação do tônus muscular e estimulação do desenvolvimento motor“, descreveu a fisioterapeuta e coordenadora geral do centro de equoterapia e reabilitação Coração Valente, Ana Luiza de Lara Uzun.

Para o auxílio no aspecto psicológico, a coordenadora fala, ainda, que a familiaridade com o cavalo desperta no praticante de equoterapia uma relação de amizade e afeto pelo animal, em que aliados irão trilhar um caminho de descobertas e novas conquistas. “O contato com o cavalo desperta o encontro consigo mesmo, podendo-se trabalhar o alívio do estresse, autoconfiança e segurança, onde o praticante aprende a dominar as rédeas da própria vida”, disse.

A equoterapia envolve profissionais de diferentes áreas, como fisioterapeuta, especialista em psicomotricidade, psicólogo, terapeuta ocupacional, educador físico, instrutor de equitação e condutor. A indicação para se realizar a atividade normalmente é feita por neurologistas, pediatras, fonoaudiólogos e psicólogos.

Andrea Sayeqh, 23 anos, teve lesões cerebrais devido à falta de oxigenação na hora do parto e, por isso, não fala e é totalmente dependente. Andrea pratica a terapia com o cavalo há aproximadamente seis anos. O pai, Bassem Sayeqh, que leva a filha para se exercitar, conta que a terapia auxilia na manutenção das funções vitais, como respiração e circulação, e da estabilização, que impede a regressão, por exemplo, do tônus muscular. “Não corrige nada, mas também não regride na postura”, disse Sayeqh.

O instrutor de equitação Fábio de Cássio Teixeira explicita que no processo existe um trabalho de interação entre o animal e o praticante. Os momentos de cuidado com o cavalo são vários, entre eles está a alimentação, em que o próprio praticante prepara e serve a comida, a escovação e o carinho. “Poder ter o domínio sobre o cavalo é sensacional, porque ao ter controle sobre um animal que pesa entre 500 e 600 quilos, a autoestima se eleva. O aspecto de postura do praticante que, por exemplo, não tem o movimento das pernas e sempre deve olhar para cima, ao montar em um cavalo muda, ele se sente superior”, afirmou.

A idade mínima para iniciar a prática da terapia com cavalos é de um ano para qualquer caso, com ressalva somente para portadores de síndrome de Down, que tem recomendação a partir dos três anos. Essa diferença está relacionada às características da síndrome, que faz com que o portador tenha uma tendência à instabilidade na coluna cervical (entre a 1ª e 2 ª vértebras) e que pode ser agravada pelo movimento do cavalo.

Júlia, 5 anos, nasceu com microcefalia, uma condição neurológica em que o tamanho da cabeça é menor do que o tamanho típico para a idade do feto ou criança. A menina não tem coordenação motora adequada e quando ainda pequena, o pediatra recomendou a equoterapia. Karina Hayashida Figueiredo, mãe de Júlia, fala que ela pratica há três anos e que o progresso quanto à coordenação e equilíbrio foi visível. Karina só não entende por que a agência reguladora da saúde não incorpora o programa como prática regular, pois já é comprovada a sua eficácia pelos órgãos de saúde. “Enquanto isso não acontece, eu pago o valor mensal de R$ 340, porque vale muito a pena”, afirmou.

José Eduardo M. de Rezende é pai de André, de 5 anos, que nasceu com variante da síndrome de Dandy Walker (SDW), uma malformação congênita não-familiar. Uma anomalia que acontece no sistema central, devido à obstrução da circulação do líquido cefalo-raquidiano entre a cabeça e a coluna vertebral.

André pratica equoterapia devido a problemas de relacionamento há um ano e meio, e a terapia tem ajudado promovendo novas ligações neurológicas que antes não existiam no cérebro da criança. A criança pratica uma vez por semana, durante 30 minutos, sob orientação da equipe. O pai garante que o tratamento vem ajudando na sociabilização, na adequação do tônus muscular e no equilíbrio do filho.

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